quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A Pépa e a apologia do vazio

Ao início da tarde o meu colega da frente, jornalista a meio dos 40 com um sentido de humor muito peculiar, chama-me: "Fáfi tens que vir já aqui ver isto", diz a rir-se. Foi então que vi o vídeo que se tornou viral, o tal da Pépa patrocinado pela Samsung. 
Fiquei a olhar para o ecrã meio incrédula, a ouvir aquele discurso, que para ser sincera cheguei a ter alguma dificuldade em perceber, tal era a dicção e a linguagem afectada com que a rapariga falava, e no fim a primeira ideia que me veio à cabeça foi: c`um caraças, como é que uma marca como a Samsung deixa isto acontecer? Ninguém na Samsung viu o vídeo antes deste ser publicado? Ou pior, viu e achou que estava ali uma publicidade muito bem feita? Ou foi preciso o público em geral repudiá-lo, caso contrário para a marca estaria tudo bem?
Na verdade que a Pépa seja desfasada da realidade, fale de uma forma estranha, tenha aterrado de Marte ou goste mesmo de ser fútil é um problema dela e, na verdade, um direito que lhe assiste. Para mim, o maior "problema" não é querer ter uma mala Chanel porque isso é legitimo, o "problema" é quando se trata de ser o maior objetivo de alguém para 2013, "uma conquista pessoal" como a própria diz. Aí a coisa torna-se pobre e poucachicha. Demasiado. E é isso, é a apologia do vazio que incomoda. O facto de, para muitos, ser cool pensar assim, ser cool seguir uma blogger assim e, acima de tudo, uma marca achar cool dar visibilidade a objetivos assim! Tudo isto é que se torna preocupante. 

Relativamente a este assunto, no blog da Pipoca mais Doce, o MEC dá a sua opinião. Aqui fica uma pequena parte, com a qual não poderia concordar mais.

Dizer que se é "assim mesmo" é o princípio para aceitar tudo, e esse é o princípio do fim. Se ela é assim, e se pensa que uma conquista pessoal grande é comprar uma carteira, então estamos aqui todos para a ajudar a pensar mais alto, a ensiná-la que há algo de mais interessante, que por entre esta vida há palavras, para além das carteiras, que a poderão ajudar a abrir umas frinchas de luz por entre essa parede dura de tijolo que é a realidade. Eleger as carteiras como objectivo mais alto é, como tal, fútil. Querer justificar a futilidade apenas com o simples facto de que alguém é "assim mesmo" é preocupante.

Eu espero sinceramente que a Pepa, mais do que conseguir uma mala Chanel, (e é só ir até aqui para perceber que o desejo para 2013 poderá ser real muito antes do final do ano) aprenda algo com tudo isto.

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