sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A ti Clementina

O fim de semana passado foi de vindimas. As uvas já estavam no ponto para serem cortadas e a minha mãe, uma mulher que cresceu no campo, já não se aguentava em Lisboa. Para ela se o campo dá frutos é para se colherem em altura própria.
Lá fomos, eu, ela e o Francisco porque o pai não teve direito a folgas. Não fui apanhar uvas para ficar com o meu pequeno mais que tudo e aproveitei para darmos passeios e fazer visitas. Uma delas a casa de uma amiga da minha mãe. Quando cheguei deparo-me com a Ti Clementina, que aos 95 anos me reconhece de imediato e sorri feliz por conhecer o Francisco.
Na rua ao fim da tarde sentada ao meu lado e com Francisco à nossa frente, diz-me:
- Tu se calhar não te lembras mas uma vez disseste-me que eu ia viver muitos anos e que ia conhecer os teus filhos. Agora aqui estou eu com 95 anos, tu com 35 com e o teu bebé com meses! Que maravilha!
- Ainda bem que eu tinha razão...
- Sabes, nunca pensei viver tanto! Mas se Deus quis, ele é que sabe. Estarei cá até ele querer, diz serena.
- Pois claro e está muito bem conservada!
- Lembro-me de ti pequenina, sempre em cima do muro que separava a casa da tua avó da minha para brincares com o Pedro (neto dela, hoje arquiteto e pai de um rapaz também)... como o tempo passa!
Com o cabeço de Monsanto á nossa frente ficamos ali, algum tempo em silêncio, a lembrar-nos de outros tempos e a contemplar a paisagem.

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