quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Chegou pontualmente às 11h, tal como combinado na nossa conversa telefónica. Sugeri-lhe que nos sentássemos num dos bancos improvisados debaixo das árvores que davam uma sombra acolhedora.
Conhecia a história mas sem detalhes. Daí o  encontro. R. começou por dizer que era verdade, que aos 13 anos tinha vindo trabalhar para Lisboa como empregada doméstica. Era uma criança quando veio tratar de  outra, de quatro anos, filha da condessa da Lapa. "Os tempos eram difíceis no Alentejo, e os meus pais precisavam de ajuda para o sustento". Tinha apenas a quarta classe, e queria estudar mais, mas não podia, tinha que trabalhar. "Toda a gente dizia tem que para se ser alguém tinha que se estudar, e eu era boa aluna e queria ser alguém, mas depois pensei que ser alguém se calhar não era para mim". 
Era muito bonita, as cabeças viravam quando passava, e o pai dizia-lhe "tens que casar com um homem rico para te garantir o futuro". Mas apaixonou-se pelo barbeiro, quase 10 anos mais velho. Vai fazer 47 anos de casada no próximo mês. Quanto a ser alguém depois de ter sido empregada doméstica durante toda a juventude, decidiu refugiar-se na escrita, e tornou-se poetisa. Tem quatro livros editados, uma dicção maravilhosa e uma simplicidade rara.
Ao fim de duas horas de conversa, de alguns momentos de choro pelo meio, despedimo-nos, com um até para a semana. Olhei para o meu bloco de notas cheio e senti-me abençoada. Pela conversa, pela confiança, por fazer o que gosto,  pelos meus pais me terem deixado escolher, e por seguir os meus sonhos. 
A história de R. vai ser a protagonista de um Portugal no Coração a semana que vem. E eu já estava com saudades de fazer televisão com afetos. Isso é que deixa uma felina com um sorriso na cara.

O banco que se falasse contava muitas histórias.

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