quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Comecei! Comecei ontem o que há muito estava para fazer. Dar tempo a quem mais precisa.  Sai do trabalho um pouco mais cedo do que o habitual e à hora combinada estava no local onde há duas semanas tinha estado em reunião para definir como seria o meu voluntariado. A porta abriu-se e depois de alguns cumprimentos entregaram-me a N. "Ela apresenta-lhe as crianças e diz-lhe como tudo se processa". E assim foi. Uns mais envergonhados que outros, os habitantes de palmo e meio da casa lá se foram apresentado. Nem demorou 10 minutos para estar com três deles no chão a fazer puzzles e a jogar mikado, entre muitas gargalhadas. Rapidamente chegou a hora de jantar e enquanto a criançada jantava,  os bébés precisavam de se deitar. Pego em B, que com poucos meses não estranha o meu colo. Aliás acho que ela adora tanto colo que não se chateia com nada à volta. No sofá ao lado uma voz, meio tímida, pergunta-me "É mãe?"Respondo com um sorriso "não, não sou." Percebo que fica surpreendida e que está curiosa por saber a minha idade. "Tenho 34." E já mais à vontade S. diz-me "É eu que fui mãe aos 14! Veja lá como é a vida. Uns cedo demais, outros tarde." Sorri e apeteceu-me explicar-lhe as minhas razões e que não, não achava nada tarde mas olhei para ela, hoje com 15 anos, com uma filha com uma deficiência nos braços e achei que não fazia sentido dizer que sempre quis viver ao máximo a minha juventude, que sempre que pude, e posso, gosto de viajar, que sempre tive como prioridade os estudos e depois o trabalho, e que agora apesar de ter um homem que adoro e que me adora ainda não me sinto preparada para ser mãe. Nada disto, para uma miúda de 15 anos que já é mãe e me diz que a família não a pode ajudar e que tem os irmãos à espera de adoção, pareceria  razoável. E eu queria tudo, menos parecer uma cabra egoísta.
Chegou o momento de deitar os bébés e quis ajudar. "Agora é preciso mudar a fralda", ouvi. Upsss, ora ai está uma coisa que nunca fiz! E decidi ser verdadeira. "Eu adorava trocar as fraldas, mas não sei se sei. Tem que me ensinar." E foi assim que S. de 15 anos, me explicou prazenteiramente como se deixa um bébé feliz e de rabinho limpinho antes de ir dormir! Um não, três!
Com estes a dormir, os mais velhos esperavam por mim. Queriam ouvir uma história. Afinal era para isso que eu ali estava. Aliás, foi por isso que decidi ir. Para contar histórias. Para fazê-los sonhar. E acreditar que a magia existe. Eu que, fui uma grande privilegiada e, tive um pai que até ao início da adolescência que contou sempre mil e uma histórias antes de adormecer, achei que podia pelo menos uma vez por semana, fazer o mesmo, a quem não tem pais por perto para as contar. Contei as aventuras do coelho Félix que viajou pelo mundo. Eles foram dormir sorridentes e eu vim para casa de sorriso estampado na cara e com o coração cheio.
É maravilhosa esta sensação de darmos de nós e de perceber que às vezes é preciso muito pouco para fazer grandes diferenças. Pode ser um cliché, eu sei, mas é bem verdadeiro.

3 comentários:

gracices disse...

Que lindo, amiga! O texto. E o voluntariado. Fiquei a gostar ainda mais de ti. E cheia de vontade de fazer o mesmo. Também quero!!! O que é preciso fazer? Beijinho grande

Felina na Cidade disse...

A semana que vem arranjo tempo, aceito o teu convite, vou a tua casa, metemos a conversa em dia e conto-te tudo o que queres. :)))
Bjo enorme

gracices disse...

Está combinadíssimo, querida. ;) Chuac