Acontecem coisas maravilhosas quando decidimos sair de casa!

Acontecem coisas maravilhosas quando decidimos sair de casa! Estava imenso frio na rua, o que detêm qualquer um de sair, inclusive o meu Manel que adora o aconchego das mantas, mas a minha paixão por cinema e por ver a secção de Natal do El Corte Inglês (porque adoro Pais Natal) levou a melhor. 

Compramos os bilhetes e antes do filme rumamos ao 6º andar. Mal se abriu a porta do elevador dei de caras com uma cara conhecida. Fiquei a olhar, a pensar, a pensar... dei uns passos e fez-se luz! Era o mineiro!!!! O 33º a sair da mina do Chile... Luis Urzúa estava ali, no mesmo andar que eu, um andar praticamente vazio, cheio de luzes, presépios e Pais Natal! Pensei de imediato, tenho que falar com ele e disse ao Manel que me perguntou - "tens a certeza?!" E eu disse, "claro que tenho! Deitei-me tarde para ver a saída dele da mina e sei que está em Lisboa". O Manel, prudente como sempre e percebendo a curiosidade própria da profissão, disse, "ok, passamos por ele, se falar espanhol, interpela-mo-lo!" Nem era preciso ouvi-lo porque tinha a certeza! Mas assim foi, fizemos de maneira a encontrá-lo de frente e ao ouvi-lo falar espanhol, o Manel que é bem mais envergonhado que eu, nem se deteve a falou de imediato.

O que se seguiu foram uns consideráveis 10 minutos de conversa, em "portunhol", cheios de emoção. Tinha tantas curiosidades e tantas perguntas na ponta da língua que não parava!

Luis é exactamente o que parece quando o vimos na televisão, muito simpático e humilde. Uma humilde enternecedora, que me chegou a comover sem eu mostrar... Perguntei-lhe se estava a gostar de Lisboa, quanto tempo ia ficar, disse-me que no dia a seguir  ia a Cascais, disse-lhe para tentar ir também a Sintra, disse-me que tinha estado no Estádio do Benfica a assistir ao jogo, que eu orgulhosamente disse que era o meu clube, e ao que ele respondeu meio brincalhão que a prestação no jogo não tinha sido a melhor... contou-me também que uma das coisas que mais tinha gostado até agora tinha sido a visita a uma escola primária e que as perguntas das crianças foram além de curiosas, muito engraçadas. Adorou essa experiência de falar para os mais pequenos.

E era isso exactamente que eu parecia, uma miúda pequena cheia de curiosidade. E sem saber, Luis deu-me o mote para as perguntas que eu tanto queria fazer, que tinham precisamente a ver com a mina, como se sobrevive a 700 metros de profundidade tanto tempo, sem o básico, em que se pensa, como se passam os dias... Ele disse-me que "o pior foram os primeiros 19 dias, em que não sabiamos se andavam sequer à nossa procura, não sabiamos nada de nada, isso foi o pior, além disso os alimentos estavam a chegar ao fim" disse-me. "A partir do momento em que tivemos notícias do exterior tudo se modificou mas houve sempre muita fé e sempre acreditamos!" Ao que retorqui, sempre mesmo? "Sim, sempre mesmo!" A fé faz realmente milagres e seja no que for, vale a pena acreditar. Foi ai que me contive para não parecer lamechas perante tanta genuinidade.

Perguntei se não tinha receio de voltar a entrar numa mina, ao que respondeu que essa era a sua vida, e que ia voltar sim, mas por enquanto " todos os mineiros estão de baixa". Quanto a filmes e a eventuais publicações disse-me que há propostas, como se sabe, e claro que eles vão estudar as melhores.

A conversa acabou com uma fotografia tirada, por telemóvel, para mais tarde recordar... Sabem o que vos digo? Ás vezes acontecem coisas maravilhosas quando decidimos sair de casa!