quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Estava parada no sinal e começo a ver o jipe à minha frente a descair vagarosamente, depois a descair com um pouco mais de velocidade e ai já o meu instinto faz com que carregue ininterruptamente na buzina, mas de nada serviu, só parou quando ouviu BUM. Fiquei a pensar no bonito serviço. Abro a porta, saiu do carro e digo:
- Boa noite. Não ouviu buzinar?
- Ouvi, mas não pensei que fosse para mim! Foi você que me bateu certo? Diz o homem de meia idade, com pronúncia angolana.
- Desculpe?! Só pode estar a gozar, acha que eu lhe buzinava caso tivesse batido? Acha que faz algum sentido?
- Pois não sei, mas que eu não senti o meu carro a andar, isso não senti.
- Não sentiu, mas andou, tanto que é só olhar. Mas não há problema que a polícia resolve.
Ligo para a polícia e ligo para a minha amiga M. que estava perto, pois o "acidente" deu-se mal sai do trabalho. Ela chega primeiro que a polícia. Está um frio de raxar, e não controlo o riso quando a vejo. Conto-lhe que  o condutor  deixou descair o carro,  e acredita que possa ter sido eu a bater-lhe. Somos interrompidas.
- Está frio, estamos aqui à espera da policia e eu ia buscar o meu amigo ao aeroporto e já estou atrasado! O melhor é dizer-lhe para vir aqui ter. Mas não sei explicar onde estamos. Fiquei a olhar para ele, a conter o riso, mas já com alguma pena sem perceber bem porquê, e disse:
- Mas nós estamos a um minuto do aeroporto, como é que nãos sabe onde estamos?
- Não sei não. Mas alguma de vocês sabe explicar para o meu amigo vir cá ter de táxi?
M. diz:
- Dê cá o telémovel que eu explico ao seu amigo, sem problema nenhum.
Entretanto, o meu telémovel toca:
- Amor, onde estás?
- Na rotunda, mal se sai do trabalho, um carro andou para trás no sinal, bateu-me e não é nada grave, mas estamos à espera da policia. 
- Já ai passo.
O Manel chega, chega o amigo do condutor de táxi cheio de malas, com a mulher ao lado, e chega a polícia. O circo está armado, portanto.
- Então que se passa? Pergunta o agente já a rir. 
Eu explico, o condutor explica e diz esta proeza.
- Ela buzinou, buzinou, buzinou mas eu não a ouvi. 
- Até que o senhor lhe bateu, sem querer, foi isso? Diz o agente.
- Não, eu acho que deve ter sido ela a bater-me!
Nem eu, nem o Manel, nem os dois policias contivemos o riso.
Exaltado estava o Amigo vindo do aeroporto.
- Eu tenho negócios a fazer, e estamos aqui por causa de um toque insignificante. Eu venho de França e lá isto já estava resolvido. Isto só pode ser a gozar.
-Acalme-se homem, diz o policia.
- Acalmo-me? E vira-se para mim .O negócio que tenho para fazer vale não sei quantas vezes o seu carro, percebe?
- Percebo, mas como deve entender eu não tenho nada a ver com isso, fale antes com o seu amigo.
O polícia chega-se mais perto de mim e diz-me:
-  O que pretende fazer?
- O que achar melhor, o sr. agente é que é a autoridade, mas claro que isto não é nada grave e prefiro ir pela declaração amigável.
- Abra o capô do carro, para eu ver se há danos. Depois de ver sussurra-me - você tem razão e ele sabe disso, mas não é possível provar que ele descaiu com o carro e que andou para trás, percebe?
- E o que é que faço?
- Isto não foi nada para dentro, a única coisa que está amachucada é a chapa da matricula, não me parece haver mais nada sinceramente, e uma matricula nova custa-lhe 10 euros.
- A sério, uma matricula custa só 10 euros? Chega a ser ridículo estarmos aqui.
- Sim, sim! Se ele lhe der esse dinheiro nem se chateie mais.
Enquanto o amigo cheio de malas de viagem, continuava a falar alto a dizer que tinha um negócio para fazer. O policia interrompe:
- Isto pode resolver-se sem problemas. Realmente a matricula foi toda para dentro, mas não me parece que haja mais que isso.
- Diz o homem de negócios, tipo novo rico angolano. Se o problema é dinheiro, isso não falta. Saca de um envelope cheio de notas. Quanto é?
- Parece que basta apenas 10 euros. Digo a rir.
- Ai é? Até parece desapontado. Então tome lá...
- Aceito a nota. Ele pede-me desculpa pela axaltação. A mulher dele pede desculpa também e deseja bom ano, a mulher do condutor que até então não tinha saído do carro, sai para me desejar Bom ano. Eu retribuo. Digo ao marido dela que da próxima vez que ouvir buzinar que preste atenção, pois ninguém buzina por divertimento. Os policias riem-se, divertidos, desejam bom ano a eles, desejam-me bom ano a mim. Eu retribuo. E acaba tudo bem disposto.
Com tudo isto, não fui à minha aula de Pilates, e isso é que foi realmente uma chatice!

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