domingo, 23 de setembro de 2012

O senhor da frente...

Comovem-me as coisas simples (das lamechas nem vale a pena falar). Às vezes basta uma expressão triste na cara de um desconhecido, duas crianças de mão dada, um casal de idosos a dar um beijo para ficar ali especada, uns momentos, a observar e a imaginar que vidas  estão por trás daquelas caras...
Hoje nem lhe vi a expressão. Estava sentado na mesa à minha frente, sozinho, a beber uma cerveja e a comer um pão com chouriço. Percebi que já passava a casa dos 70 e era um benfiquista vestido a rigor, com chapéu e casaco a condizer. Mas sobretudo era alguém sozinho numa esplanada de jardim Domingo à tarde. Havia ali solidão... 
Pensei de imediato que tinha que ir trocar dois dedos de conversa. Mas não queria parecer intrusa nem mostrar que sentia pena ou algo que se parecesse. Demorei um pouco até arranjar um pretexto que fosse engraçado. "Boa tarde, desculpe incomodá-lo mas olhei para si e pensei logo que seria a pessoa ideal para me dizer a que horas joga logo o nosso Benfica com a Académica." Foi o mote para o sr. Zé me dizer as horas do jogo e dizer que era capaz de não ser um jogo fácil mas que estávamos com uma boa equipa, para depois me contar que ao longo dos seus 74 anos já tinha assistido a grandes performances do glorioso. "Sabe, eu sou do tempo em que ia ao estádio ver o Eusébio jogar, isso não se esquece!" Gostava de falar. Falou-me das antigas glórias, do Benfica doutros tempos, e da equipa atual. Toda eu era ouvidos. 
A conversa durou uns largos minutos. Despedi-me agradecida pela preciosas informações e com a sensação de que um gesto simples pode fazer a diferença na tarde de alguém.

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