quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Aristides de Sousa Mendes

Se há privilégios na minha profissão é de conhecer pessoas e histórias interessantes. Esta semana passei muito tempo com familiares de Sousa Mendes para preparar um programa. Falei também com o realizador Francisco Manso, e os atores Vítor Norte e Carlos Paulo. Foram horas de pormenores sobre Sousa Mendes, a família, o ato humanista que o tornou único, as consequências duras que vieram da parte de Salazar, as dificuldades económicas, a morte na miséria e o esquecimento durante os anos que se seguiram.
Já Israel o considerava "Justo entre as Nações" em 1966, quando em Portugal só 13 anos depois do 25 de Abril é que começou a haver algum interesse pela sua vida, e pouco. Já homenagens tinham sido feitas nos EUA, quando em Portugal muitos poucos continuavam a saber quem era. Um homem culto, católico e humanista que em Cabanas de Viriato, sua terra natal, mesmo depois do sucedido e com dificuldades económicas, vendia património para sobreviver, mas abria as portas para dar comer a quem precisasse na aldeia. "Os miúdos da terra brincavam connosco lá em casa, ali não havia diferenças", disse-me o sobrinho, filho do irmão gémeo. Essa casa é a atual Casa do Passal, que se encontra em ruínas e que a família quer desesperadamente angariar fundos para recuperar e fazer ali um museu/centro sobre a sua vida/obra e promover conferências sobre os direitos humanos.
Das 30 000 vidas que salvou existem muitas histórias curiosas.  É devido ao ato heróico de Sousa Mendes que existe hoje o Luxemburgo. O Cônsul de Bordéus assegurou a vida da grã duquesa na altura ao passar-lhe um visto, quando o seu país foi invadido pelos alemães, e assim permitiu que houvesse descendência. Ontem na ante estreia do filme no cinema S. Jorge, o embaixador do Luxemburgo, agradeceu e contou isso mesmo. Mas muitas são as histórias da vida de um grande Homem que, com 14 filhos (e 39 netos) que foram "obrigados" a emigrar a seguir a 1940,  morre praticamente sozinho e sem um fato para vestir.
Um homem que salvou 30 000 vidas e sofreu duras consequências faz parecer Schindler, que salvou 1200 vidas, sem retaliações, um menino (sem lhe tirar mérito, claro!).  Steven Spierberg "imortalizou" Schindler no cinema em 1993. Provavelmente não conhecia a história de Sousa Mendes. Com o seu budget hollywoodesco, a memória deste herói não teria passado tanto tempo despercebida, digo eu. Seja como for, Francisco Manso e João Correa fizeram o primeiro filme, que tive o prazer de ver ontem, e que estreia hoje nos cinemas. Vale a pena ver porque nos dias que correm, talvez mais que nunca, precisamos de heróis e histórias inspiradoras e esta ainda por cima não é fição.

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