quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A dona Adília da Zambujeira

Estive dois dias na Zambujeira do Mar para me cansar, que isto de ir a festivais não dá descanso a ninguém! 
Contudo, depois da confusão lá ia eu, em estrada de terra batida, para um monte tranquilo, cheio de animais e sobretudo de silêncio (o barulho dos chocalhos das várias vacas de raça limousine não contam).
A dona do monte, a dona Adília é alguém muito especial, bem disposta e sobretudo muito castiça. Como gosto de a ouvir, falo sobre a minha vida, mas oiço mais sobre a dela... e foi num fim de tarde que me contou a história, que já conhecia, do seu amor e do seu casamento.
Lá me conta mais uma vez que casou com o homem que sempre quis, que nunca olhou para outro, mas que depois de casados, ele tornou-se num homem que bebia, muito. De tal forma, que ela passava noites sem dormir "aperreada" sem saber onde ele estava, a pensar se ele teria caído para uma valeta, se lhe teria acontecido alguma coisa e não tinha forma de a avisar. Á noite uma mente solitária viaja e de que maneira...
Quando ele finalmente chegava dizia-lhe "antes viver num barranco sozinha que levar esta vida contigo". Mas confidencia-me "dizia-lhe isto para ele se sentir, porque não era sentido". Não me parece que hoje, já sem ele, seja uma mulher amargurada. "Já não tenho aperreações, porque nem imagina o que passei".
Por fim pergunto-lhe como vive de Inverno num monte tão isolado. Diz-me que existem noites em que continua sem dormir... porque a solidão é mesmo assim. E que preferia um homem bêbado, do que estar sem nenhum, pela companhia.
Fiquei a pensar, que como em tudo, há excepções. Há mulheres que preferem estar mal acompanhadas do que sozinhas. E há também casos em que isso é capaz de fazer sentido.
Estou grata à dona Adília, pela partilha e pela autenticidade.

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